2009-09-28

Jacarandás, em Maputo


Da Ana de Amsterdam, Junho - uma fotografia que vale pena olhar com olhos de ver. Ou ver, com olhos de olhar.

Ou talvez só distraidamente.

2009-09-27

Pelo Rio dos Bons Sinais, hoje


Na sequência da fotografia anterior, uma outra – actual - publicada por Sorriso e Verdades no Blogue “Realidades", de Evans Bacar, sob o título de “O outro transporte mascote de Quelimane, um meio de transporte quase que tradicional no Rio dos Bons Sinais em Quelimane”. Para confrontarmos tempos diferentes, outras realidades…

De jangada…


… Num tempo (fotografia não datada) em que a jangada era o meio de transporte, de uma para a outra margem e para o machimbombo cumprir o percurso.

Pela Zambézia, eu fiz algumas viagens no tradicional machimbombo, viagens de duas-três centenas de quilómetros que por vezes rememoro para me deter num ou noutro episódio: quando, por exemplo, o machimbombo parou para permitir que uns quantos macacos atravessassem a estrada poirenta, quando, numa subida mais íngreme, todos nós os passageiros descemos para o empurrarmos, quando…

Jangada não, não cheguei a experimentar…

2009-09-25

Karingana ua Karingana


Com tempo (ou com mais disponibilidade), eu publicarei o poema que seleccionei para apresentar este livro de José Craveirinha - talvez o primeiro que se publicou em Moçambique após a revolução (?) em Portugal que conduziria ao controverso processo de independência das províncias ultramarinas (ou, noutra perspectiva, das colónias portuguesas), nomeadamente de Moçambique – para tantos de nós a pátria (e)terna. Por agora, apenas transcrevo (do Livro IV – Tingolé) um conjunto de versos que enunciam a moçambicanidade de um homem que mais tarde diria, com a alma ferida, - evocando (Fernando) Pessoa, na esteira de (Luís de) Camões - que “a minha pátria é a língua”.

Ao meu belo pai ex-emigrante

(…)

Oh, Pai:

Juro que em mim ficaram laivos
do luso-arábico Aljezur da tua infância
mas amar por amor só amo
e somente posso e devo amar
esta minha bela e única nação do mundo
onde minha mãe nasceu e me gerou
e contigo comungou a terra, meu Pai.
E onde ibéricas heranças de fados e broas
se africanizaram para a eternidade nas minhas veias
e teu sangue se moçambicanizou nos torrões
da sepultura de velho emigrante numa cama de hospital
colono tão pobre como desembarcaste em África
meu belo Pai ex-português.

(…)

O livro (que me custou 110$00 – cento e dez escudos, na moeda de então) foi publicado em Lourenço Marques, em Maio de 1974, pela Edição Académica, Lda.. As ilustrações – capa e vinheta – são de José Craveirinha, filho. E nas badanas, os comentários são de Cansado Gonçalves (datado de1963), Rui Baltazar (idem), Eugénio Lisboa (1962) e de Tristan Tzara (1964).

………………………………………
NC: Como o próprio José Craveirinha anota (nas páginas finais do livro) no “Glossário XI – Ronga – PortuguêsKaringana-Ua-Karingana! é uma “fórmula clássica de iniciar um conto e que possui o mesmo significado de o “Era uma vez”.

2009-09-20

"Os Milagres", de Jorge Viegas


Jorge Viegas, poeta, nasceu em Quelimane. “A 6 de Novembro de 1947”, como assinala na segunda página do livro “Os Milagres – Poemas”, de 1966, editado pela Sociedade Gráfica Transmontana, Lda. (de Quekimane). Um primeiro livro que Jorge Viegas dedica “À minha Mãe“ e “À Conceição”.

Deste seu livro - que agora reencontrámos - seleccionámos dois poemas, o primeiro e o último do “Terceiro Caderno”. Poemas que nos dispensamos de comentar.

O primeiro, “Inscrição”, dedica-o o autor “À memória de Reinaldo Ferreira” - um dos poetas maiores de Moçambique e da língua portuguesa. O outro, “Poema final”, expressa corajosamente uma vontade juvenil que a história transfiguraria.


Inscrição

É-nos vedado o poema natural
Como o vento e a água,
O canto livre de deuses e bandeiras.
Os nossos sonhos são maneiras
De esculpir a mágoa,
E cristalizar-lhe o sal.


Poema Final

Não me façam a alma nem sargaço nem estrela,
Mas se a minha alma não for bela
Tomai-a vós,
Atai-a com cinco nós
E não permiti que ela cante.
Sòmente,
Deixai que a água da chuva caia sobre nós.
Pois que se bebermos dela
É como se fôssemos puros,
É como se fôssemos eleitos

Outros tempos…


Quelimane, noutra fotografia sem data. Uma perspectiva do jardim municipal e dos edifícios das Fazendas e da Escola (Primária) Vasco da Gama. Outros tempos… Talvez a preto e branco mas de esperança...

... Esperança que a história frustraria, como sabemos.

O que é que o rio tem?


Quelimane. Uma fotografia (sem data) de um instante na Marginal. Uma das fotografias que a Maria (é assim que se tem identificado nos “Comentários”) nos facultou e que começamos hoje a divulgar. Para os mais atentos, uma fotografia curiosa, mesmo muito curiosa, susceptível de proporcionar os mais diversos comentários. Um, líquido, à guisa de pergunta: - O que é que o rio tem?...

"O Amor Diurno"


Em teu sereno rosto
se ergueu o vento
querida
uma leve crispação
corre a sua linha de água
em tuas feições ondulando
querida

Teus olhos se fecharam
querida
lagos sobmersos
pejados de trevas e desejos
de prazer e dor
ó doce querida

Mar nocturno e agitado
e sua audível presença
querida
um grito surdo
túmido e lento agoniza
em tua garganta opressa
ó doce querida

Tuas mãos esguias
minha querida
asas transparentes e brancas
de aves aquáticas
um vento de loucura
as possui e agita
desnorteados barcos
navegando às cegas no meu corpo
minha querida

Em teu sereno rosto
agora apaziguado
o vento torna a ser brisa
querida
com a quietude das manhãs de verão
e a fadiga
já sobre a areia
depois do naufrágio
ó doce muito doce querida



O poema que transcrevemos é o poema 10 de “O Amor Diurno”, de Fernando Couto. Sobre o qual Eugénio Lisboa escreveu, na badana de “Feições para um retrato(*) que “é um livro de franca exaltação amorosa, melhor: de exaltação da beleza e do prazer. É um livro de um esteta, de um amante inequívoco da beleza do corpo, das imagens, do gozo sensual…”.

O livro - uma “(…) edição fora do mercado, (…) composta por 150 exemplares, todos numerados e assinados pelo autor” –, com capa e ilustrações por José Pádua, foi “Composto e impresso nas oficinas do “Notícias da Beira”, em "Outubro de 1962".

……………
(*) Colecção “Vozes de Moçambique” – Nº. 1, edição do ATCM, Beira, 1970/71.