2009-08-07

Ficheiros Secretos da Descolonização


Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola”, de Leonor Figueiredo, jornalista, é um livro de leitura (quase) obrigatória. Por todos nós, aqueles que queremos saber a verdade sobre o processo de descolonização. De Angola, e de Moçambique e dos outros territórios que política e administrativamente integravam o espaço português.

Detendo-me em Moçambique, quase todos nós, os que nascemos e/ou crescemos no território que se estende desde o Rovuma até ao Maputo, à beira do Índico, afastámo-nos (in)voluntariamente para não nos submetermos à humilhação de (na melhor das hipóteses) sermos expulsos de um chão a que pertenciamos. A que pertencemos, porque a memória não se apaga e a história é irreversível.

Em relação a Angola, o Acordo de Alvor é um momento significativo, com pouca substância e menos esperança. Relativamente a Moçambique, o Acordo de Luzaka marca o início trágico da Independência. A Frelimo não era – como (quase) todos nós sabíamos – representativa da população moçambicana. E a história demonstrou-o, através de uma guerra civil que se prolongou por anos e provocou milhares de mortos e milhões de vítimas. Pessoas que perderam a vida ou se confrontaram com a vida absolutamente destroçada. No âmbito de um processo que (ainda) há quem entenda ter sido uma “Descolonização exemplar (*).

Do mesmo modo que a Leonor Figueiredo nos revela, corajosamente, os “Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola”, é, será, importante que alguém se interesse pelos “Ficheiros Secretos da Descolonização..." de Moçambique. Para se repor a verdade.

Eu, que saudei o fim do regime presidido por Oliveira Salazar e depois por Marcelo Caetano, que sempre me manifestei favorável à independência de Moçambique e dos outros territórios ultramarinos, opus-me ao Acordo de Luzaka. Frontalmente – como está documentado – mas sem armas. Apenas com argumentos que expressei publicamente, por acreditar na Democracia. Mas tive de me afastar da Pátria que escolhera. Para não ter a mesma sorte que outros tiveram. Entre outros, lembro-me da Joana Simeão (até presencialmente, em Quelimane), uma mulher que defendia um projecto (talvez diferente do da Josina Machel, com quem que também estive em Quelimane, no pavilhão do Sporting, num encontro sobre Educação) e lutava por uma pátria livre. E que terá acabado por morrer algures no Niassa, num eufemístico “Campo de Reeducação”…

Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola”, é um livro para ler. E analisar.

…………………………….
(*) Sugiro a consulta e a leitura atenta dos muitos “posts” publicados por José Milhazes, jornalista, em “Da Rússia” sob o título de “Contributo para História (Moçambique)”. Enquanto não são (admito que não sejam) publicados em Portugal (entre outros) os livros "Memórias do Trabalho em Moçambique", de Piotr Evsiukov, primeiro embaixador da (então) URSS em Maputo e "Os Nossos Primeiros Passos em Moçambique", de Arkadi Glukhov, encarregado de negócios da (também então) URSS na capital moçambicana.

…………………………………
Ilustração: Imagem recolhida em “Da Rússia”.

1 comentário:

Graça Pereira disse...

Trinta e quatro anos após a independência, onde está a verdade? Quem a diz? O acidente de Camarate um nadinha mais recente, ninguém desvenda... somos um país de mistérios... e nós, os inocentes fomos apanhados vilmente nesta embrulhada toda. Um abraço Graça