Por Duarte d’Oliveira
Foi no Coco, snack-bar no rés-do-chão do Hotel Chuabo, em Quelimane, que o Diniz me apresentou o seu irmão António. Numa espécie de troca de galhardetes porquanto eu apresentei-lhe o meu irmão Luís, que chegara à capital da Zambézia para completar o serviço militar depois de mais de um ano na região de Tete.
O meu irmão, quando se anunciou o Acordo de Lusaka, por ser o oficial mais antigo, assumiria temporariamente o comando do destacamento (em Quelimane) em virtude do respectivo comandante (um oficial miliciano) se ter transferido para a FRELIMO.
O António, por razões particulares, afastara-se do “Notícias da Beira” e estava na cidade para se despedir da família antes de iniciar a viagem para Lisboa, onde ingressaria no Expresso e onde se propunha licenciar-se em História. A viagem incluiria uma escala em Roma, a cidade monumental. Mas, enquanto se dirigia para Lourenço Marques, de automóvel – “ (…) numa curva, a lua surpreendeu-o…”, disse-me o Diniz –, despistou-se e morreu. Estávamos a 20 de Janeiro de 1974.
“Nossa humildade insolúvel / debate-se e o silêncio ainda é / uma solução pavorosa / Primeiro eles: um fio obscuro / doba-se interminavelmente / na tua matriz/ e a clara mudez do velho (em teu louvor) / faz por dentro um barulho dos demónios” – escreveu o Sebastião Alba (ao Anton) em “Uma pedra ao lado da evidência” (1).
Quase um ano depois (em 2 de Fevereiro de 1975) o Diniz ofereceu-me “O Ritmo do Presságio” (2) que abre com uma dedicatória. – “À memória do meu irmão António”.
Agora, a Quási, ao editar “A Escrita de Anton”, com organização e um estudo introdutório por Calane da Silva, permite-nos o reencontro com o jornalista e o escritor reservado, autor de contos (3) e lendas (4), António Carneiro Gonçalves. E a possibilidade de nos determos no seu olhar “sobre tudo o que na década de 1960 e na primeira parte de 1970 se publicava nos jornais da Beira e de Lourenço Marques” (5)
Mas eu não sei se o António Carneiro Gonçalves aprovaria “A Escrita de Anton”. Mas é só uma dúvida, pessoal…
…………………….
(1) “Antologia Poética”, com selecção, apresentação e notas de Vergílio Alberto Vieira, “Campo das Letras – Editores, SA", Porto, Novembro de 2000.
(2) Colecção “O som e o sentido”, Académica, Lda., Lourenço Marques, Outubro de 1974.
(3) “Contos Recolhidos”, volume Nº. 5 da Colecção “O som e o sentido”, Académica, Lda.
(Obs.: Não tenho este volume, que terá sido editado depois de eu sair de Moçambique, em Março ou Abril de 1975.)
(4) “Contos e Lendas”, Colecção “Autores Moçambicanos”, Edições 70, Lda., Maio de 1981, Lisboa.
(5) J. H. (Jorge Heitor), suplemento “Mil Folhas”, do Público, edição de 06/06/03.
Foi no Coco, snack-bar no rés-do-chão do Hotel Chuabo, em Quelimane, que o Diniz me apresentou o seu irmão António. Numa espécie de troca de galhardetes porquanto eu apresentei-lhe o meu irmão Luís, que chegara à capital da Zambézia para completar o serviço militar depois de mais de um ano na região de Tete.
O meu irmão, quando se anunciou o Acordo de Lusaka, por ser o oficial mais antigo, assumiria temporariamente o comando do destacamento (em Quelimane) em virtude do respectivo comandante (um oficial miliciano) se ter transferido para a FRELIMO.
O António, por razões particulares, afastara-se do “Notícias da Beira” e estava na cidade para se despedir da família antes de iniciar a viagem para Lisboa, onde ingressaria no Expresso e onde se propunha licenciar-se em História. A viagem incluiria uma escala em Roma, a cidade monumental. Mas, enquanto se dirigia para Lourenço Marques, de automóvel – “ (…) numa curva, a lua surpreendeu-o…”, disse-me o Diniz –, despistou-se e morreu. Estávamos a 20 de Janeiro de 1974.
“Nossa humildade insolúvel / debate-se e o silêncio ainda é / uma solução pavorosa / Primeiro eles: um fio obscuro / doba-se interminavelmente / na tua matriz/ e a clara mudez do velho (em teu louvor) / faz por dentro um barulho dos demónios” – escreveu o Sebastião Alba (ao Anton) em “Uma pedra ao lado da evidência” (1).
Quase um ano depois (em 2 de Fevereiro de 1975) o Diniz ofereceu-me “O Ritmo do Presságio” (2) que abre com uma dedicatória. – “À memória do meu irmão António”.
Agora, a Quási, ao editar “A Escrita de Anton”, com organização e um estudo introdutório por Calane da Silva, permite-nos o reencontro com o jornalista e o escritor reservado, autor de contos (3) e lendas (4), António Carneiro Gonçalves. E a possibilidade de nos determos no seu olhar “sobre tudo o que na década de 1960 e na primeira parte de 1970 se publicava nos jornais da Beira e de Lourenço Marques” (5)
Mas eu não sei se o António Carneiro Gonçalves aprovaria “A Escrita de Anton”. Mas é só uma dúvida, pessoal…
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(1) “Antologia Poética”, com selecção, apresentação e notas de Vergílio Alberto Vieira, “Campo das Letras – Editores, SA", Porto, Novembro de 2000.
(2) Colecção “O som e o sentido”, Académica, Lda., Lourenço Marques, Outubro de 1974.
(3) “Contos Recolhidos”, volume Nº. 5 da Colecção “O som e o sentido”, Académica, Lda.
(Obs.: Não tenho este volume, que terá sido editado depois de eu sair de Moçambique, em Março ou Abril de 1975.)
(4) “Contos e Lendas”, Colecção “Autores Moçambicanos”, Edições 70, Lda., Maio de 1981, Lisboa.
(5) J. H. (Jorge Heitor), suplemento “Mil Folhas”, do Público, edição de 06/06/03.
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