Com tempo (ou com mais disponibilidade), eu publicarei o poema que seleccionei para apresentar este livro de José Craveirinha - talvez o primeiro que se publicou em Moçambique após a revolução (?) em Portugal que conduziria ao controverso processo de independência das províncias ultramarinas (ou, noutra perspectiva, das colónias portuguesas), nomeadamente de Moçambique – para tantos de nós a pátria (e)terna. Por agora, apenas transcrevo (do Livro IV – Tingolé) um conjunto de versos que enunciam a moçambicanidade de um homem que mais tarde diria, com a alma ferida, - evocando (Fernando) Pessoa, na esteira de (Luís de) Camões - que “a minha pátria é a língua”.
Ao meu belo pai ex-emigrante
(…)
Oh, Pai:
Juro que em mim ficaram laivos
do luso-arábico Aljezur da tua infância
mas amar por amor só amo
e somente posso e devo amar
esta minha bela e única nação do mundo
onde minha mãe nasceu e me gerou
e contigo comungou a terra, meu Pai.
E onde ibéricas heranças de fados e broas
se africanizaram para a eternidade nas minhas veias
e teu sangue se moçambicanizou nos torrões
da sepultura de velho emigrante numa cama de hospital
colono tão pobre como desembarcaste em África
meu belo Pai ex-português.
(…)
O livro (que me custou 110$00 – cento e dez escudos, na moeda de então) foi publicado em Lourenço Marques, em Maio de 1974, pela Edição Académica, Lda.. As ilustrações – capa e vinheta – são de José Craveirinha, filho. E nas badanas, os comentários são de Cansado Gonçalves (datado de1963), Rui Baltazar (idem), Eugénio Lisboa (1962) e de Tristan Tzara (1964).
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NC: Como o próprio José Craveirinha anota (nas páginas finais do livro) no “Glossário XI – Ronga – Português” Karingana-Ua-Karingana! é uma “fórmula clássica de iniciar um conto e que possui o mesmo significado de o “Era uma vez”.