2009-06-29

Pancho Guedes: fotógrafo, pela saúde da mãe moçambicana



O autor do arranjo gráfico e das fotografias de “Bebé Mamã” (um pequeno livro que reencontrei ao arrumar uma das estantes do meu escritório) é uma figura relevante no mundo arte, sobretudo no domínio da arquitectura – que alguém disse ser “arte com gente dentro”. Em Moçambique, primeiro, e depois por aí, A. d’Alpoim Guedes é o ”Pancho” Guedes, cuja obra é objecto de uma exposição no Museu Berardo, em Lisboa, aberta ao público até 09/98/16.

Na exposição – “Pancho Guedes, Vitruvius Mozambicanus” -, que eu ainda não vi, provavelmente não estarão disponíveis os originais das fotografias que ilustram o livro de Deolinda Martins. Também por essa razão, decidi seleccionar e reproduzir duas dessas fotografias.

Uma ilustra o capítulo “O Desmame”, no qual Deolinda Martins ensina que a mãe “Deve continuar a dar leite ao seu filho, mas, a partir do 7º mês, é preciso fazer-lhe comer mais alguma coisa, porque, se lhe der só leite, o seu filho não virá a ser um homem forte (…)”. A outra mostra-nos “O Banho” para que a mãe saiba que “Deve lavar o seu filho todos os dias. Aqueça a água mas não muito; aqueça de modo que possa pôr o seu braço na água sem se queimar (…)”.

A outra razão para a reprodução das fotografias é sobretudo pessoal: enquanto profissional de saúde, congratulo-me com o empenho de A. d’Alpoim Guedes - o filho de Pancho Guedes - numa acção de Educação e Promoção da Saúde numa pátria que partilhámos: Moçambique.

Educação para Saúde, em Moçambique – antes da Independência


Bebé Mamã” é o título de um pequeno livro (43 páginas) editado pelo Serviço Extra-Escolar da Província de MoçambiquePara a Melhoria Educativa e Social das Populações Moçambicanas”. Não tem data de edição mas trata-se de um “Trabalho executado nas oficinas gráficas da Empresa Moderna, Lda.”, sediada em Lourenço Marques. O texto é de Deolinda Martins e as fotografias e arranjo gráfico são de A. d’Alpoim Guedes.

No livro, a autora propõe-se “ensinar” a mulher e mãe moçambicana a “tomar conta” do bebé – desde a alimentação à vacinação – para que o filho possa “vir a ser uma pessoa saudável e feliz”. Escreve Deolinda Martins, no final da Introdução: - “Deus queira que ele (o livro) a ajude a ser uma mãe boa e sabedora, ensinando-lhe e explicando-lhe coisas e dando-lhe coragem para as fazer”.

Adoptando os conceitos actuais, o livro seria classificado como material de Educação para Saúde – no âmbito, talvez, da Saúde Materna. Apesar da linguagem “maternalista”, “Bebé Mamã”, ainda hoje seria útil se a rede de unidades de prestação de cuidados de saúde tivesse subsistido após a independência. Transcrevemos da página dedicada à vacinação:

Os bebés devem ser vacinados durante os primeiros seis meses.
Nas Delegacias de Saúde das Cidades e nos Dispensários, fazem-se todas vacinas durante certos dias do mês. Se mora numa cidade ou perto de uma cidade, informe-se na Delegacia ou no Posto Sanitário mais próximo dos dias em que as vacinas são feitas, para lá levar o bebé.
No mato, a vacina contra a varíola é feita em qualquer dia que lhe convenha.
Para as outras vacinas, informe-se no Posto Sanitário da data em que será feita a próxima campanha
”.

Passaram-se quarenta anos…

2009-06-26

Saber organizar....


O Rui Nunes é empresário, mas tem uma vocação alternativa: a de promotor de eventos…

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Ilustração: Fotografia por Duarte d’Oliveira (09/05/23)

2009-06-18

Marrupa, em “Voando em Moçambique”


Voando em Moçambique” é um blogue onde se historia a aviação em Moçambique, bem documentado e profusamente ilustrado. Como escreveram na Apresentação - Luisa Hingá e José Vilhena, os autores -, “Voando em Moçambique” é “uma espécie de livro de bordo, com memórias da aviação civil em Moçambique”.

Nós, todos quantos integrámos o Comando de Agrupamento 2972, não viajámos para Marrupa de avião. Fomos de Berliet e talvez por essa razão não nos esquecemos desta placa, logo à entrada da vila…

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Ilustração: Fotografia por Nobre Furtado, recolhida em Voando em Moçambique

2009-06-06

Uma fotografia antiga


Por entre os meus papéis, no escritório desarrumado, encontrei esta fotografia. Antiga, muito antiga decerto. E (quase) de certeza tirada na Zambézia, provavelmente em Quelimane, numa Escola ou numa Missão. Não sei. No verso, a fotografia não tem qualquer informação.

Talvez algum leitor – eventualmente a
Zambeziana Graça Pereira – saiba identificar o local e/ou até alguém. Fico à espera.

2009-06-05

A uma das mesas


Uma pausa, para a fotografia – numa tarde em que o fotógrafo se revelou absolutamente inábil para o desempenho dessa função. Há tardes assim…

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Ilustração: Fotografia por Duarte d’Oliveira

O mundo é um lugar pequenino...


À mesa, o lugar (aparentemente) vago pertence-me. Levantara-me para tirar a fotografia. Em primeiro plano, a irmã (como o mundo é pequenino…) de uma colega (de Vila Nova de Tázem) do tempo em que eu frequentei o Colégio Nuno Álvares, em Gouveia, e com quem durante muitos meses (talvez dois anos lectivos) viajei quase diariamente na carrinha do colégio. Por vezes, pelo final do dia, conduzida pelo Dr. Sampaio - uma figura irreverente que (também) não esqueço…

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Ilustração: Fotografia por Duarte d’Oliveira

De dedo em riste...


… Quase de certeza que o colega de pulover vermelho – uma figura (mais ou menos) pública com lugar cativo na Assembleia da República - foi sensível à convicção do colega que veio do Minho para expor tão convictamente, de dedo em riste, os seus argumentos…

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Ilustração: Fotografia por Duarte d’Oliveira

Vinho do Porto com (quase) quarenta anos


Velhote – pois não, passaram-se quase 40 anos -, o Apolinário olha com atenção para a garrafa de Vinho do Porto especial, personalizada e com referência à sua inclusão no Comando de Agrupamento 2972, unidade militar que nos juntou em Moçambique entre 1970 e 1972.

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Ilustração: Fotografia por Duarte d’Oliveira

2009-06-02

Glória de Sant’Anna


Há pouco, pelo noticiário das 17.00 horas transmitido pela Antena 2, soube que a Glória de Sant’Anna falecera. Hoje, na casa em que se exilara depois de abandonar Moçambique e a sua cidade de Pemba (então Porto Amélia). Para a generalidade dos cidadãos portugueses será só um nome, indiferenciado como tantos outros. Para alguns, mais curiosos, foi (ou será lembrada como) a mãe de Rui Paes, seleccionado pela Madona para ilustrar um dos seus livros infantis. Porém, para quem lê e ama a poesia, sobretudo para quem lê e ama a poesia de Moçambique, Glória de Sant’Anna é (e será) um nome eterno.

Ns ruas do velho Chuabo, eu e o Diniz (Sebastião Alba) liamos os seus versos, diziamos alguns dos seus poemas. Num dos Encontros promovidos pelo Centro Juvenil da cidade, eu dediquei o espaço de poesia à Glória de Sant’Anna. E a Tó Brandão (do RCM, Rádio Clube de Moçambique), cumplíce, disse – como já escrevi noutro local – um dos seus poemas mais íntimos: Maternidade.

Nesta nota, brevíssima, escrita na penumbra da mágoa pela perda de uma voz amiga, insisto em lembrar(-me) que “Eu um dia serei uma poalha de vento”…

"Epitáfio

Eu um dia serei uma poalha de vento
pousando inadvertidamente em tua face

e me sacudirás

Eu um dia serei uma réstea de chuva
caída por acaso em tua fronte

e me sacudirás

E eu um dia serei a última lembrança
imponderável já na tua mente

e então me esquecerás"

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Ilustração: Imagem recolhida em
Porto Amélia - Pemba - Poesia